segunda-feira, 21 de junho de 2010

E o morto ainda manda


Com a esperança de ouvir um bom prognóstico, infeliz com o monte de problemas e agindo como uma perfeita idiota, Clarice foi consultar uma vidente. Ela sabe que suas angústias e felicidades não têm nada a ver com o além, mas tem uma certa atração em ouvir alguém dizer o que vai acontecer com a sua vida. Mesmo que depois tudo seja diferente.

A vidente já era conhecida. Há exatos quatro anos Clarice esteve lá e a médium foi agradável e só disse coisa boa. Ela segue a linha do espiritismo e falou que o pai e a mãe da minha amiga pediam que ela fosse avisada que eles tinham muito orgulho da filha. Clarice gostou de ouvir isso. Ela também tem orgulho daquilo que é. Só que, agora, a coisa foi diferente. Na outra vez, a vidente falou que Clarice estava acompanhada de vários espíritos, vô, vó, pai, mãe, anjos de guarda, todos ligados numa energia positiva. Minha amiga era feliz e não sabia. Nesta segunda sessão, só o pai dela apareceu e se manifestou de forma veemente; um legítimo fagundaço, como a gente chama na minha família. Clarice esteve prestes a mandar o fantasma do pai à puta que pariu.

Quem aquele espírito achava que era pra lhe dar ordens? Ela não quer obedecer alma penada, mas aquelas ordens deixavam Clarice sem argumentos para se rebelar. Confidencialmente – puta, ela pediu pra eu ser discreta - me contou que entendia por que estava ouvindo mijada de morto. Ouvi tudo calada, pensando que o quadro desta minha amiga querida está inspirando cuidados.

Mas o pior é que quando contei pro meu namorado que o espírito pai da Clarice tinha baixado e estava ordenando que ela procurasse um médico e pagasse as contas, ele nem considerou o elemento fantasmagórico história. Simplesmente disse que eu também deveria fazer o que o morto mandava.


Lulu.

Um comentário:

  1. conforme o positivismo, cada vez mais, os mortos mandam nos vivos.

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